Total 90s - XXXIII

Neste mês: um homem sem rosto que ganhou o gosto pelos filmes de ação; uma série imortal de perder a cabeça; uma banda que chegou e quis partir tudo e uma corrida de karts para personagens que batem bem.

Filme: ‘Vingança sem Rosto’Darkman (1990)

O cientista Peyton Westlake (Liam Neeson), prestes a descobrir uma forma de produzir pele humana artificial, é brutalmente atacado, desfigurado e deixado para morrer pelo cruel mafioso Robert Durant (Larry Drake), depois que a sua namorada, a advogada Julie Hastings (Frances McDormand), entrar em conflito com o promotor corrupto Louis Strack Jr. (Colin Friels). Quando um tratamento para curá-lo das suas graves queimaduras falha, Westlake desenvolve habilidades sobre-humanas, que também têm o efeito colateral não intencional de torná-lo mentalmente instável e quase psicótico. Consumido pela vingança, “Darkman” decide caçar Durant e todos aqueles que o desfiguraram.

A ideia inicial para o filme desenvolveu-se a partir de um conto que o cineasta norte-americano Sam Raimi escreveu sobre um homem que poderia mudar de rosto. A história foi influenciada por elementos de ‘O Fantasma da Ópera’ (1925), ‘O Homem Elefante’ (1980) e ‘O Sombra’, uma personagem criada originalmente em 1930 para um programa de rádio e que no ano seguinte chegou à banda desenhada. Incapaz de garantir os direitos de ‘O Sombra’, Raimi decidiu criar o seu próprio super-herói e fechou um acordo com a Universal Studios para realizar o seu primeiro filme de estúdio em Hollywood. Foi produzido por Robert Tapert e escrito por Raimi, o seu irmão Ivan, Chuck Pfarrer e os irmãos Daniel e Joshua Goldin.

‘Vingança sem Rosto’, o primeiro filme de acção do norte-irlandês Liam Neeson no papel principal, recebeu apreciações maioritariamente positivas da crítica e foi um sucesso comercial, arrecadando 48 milhões de dólares, acima de seu orçamento de 14 milhões. Esse sucesso financeiro gerou duas sequelas directas para vídeo, ‘Vingança Sem Rosto II: O Regresso de Durant’ (1995) e ‘Darkman III: Die Darkman Die’ (1996), bem como histórias em banda desenhada, videojogos e vários items de merchandising. Neeson não repetiu o seu papel nas (fracas) sequelas, retomando a sua carreira com prestações mais ligadas à área do drama mas haveria de tornar-se-ia um actor muito solicitado como protagonista de filmes de acção nas décadas seguintes.

Descobri ‘Darkman’ juntamente com o meu primo quando escolhíamos um filme para alugar no clube de vídeo local. A capa dava a ideia de uma mistura entre filme de acção e de terror e a breve sinopse intrigava: “Eles destruíram tudo o que ele tinha, tudo o que ele era. Agora, o crime tem um novo inimigo e a justiça uma nova face”. A disfrutar das nossas férias grandes, gostámos do filme e alguns anos depois até comprei o jogo que saiu para o ZX Spectrum. Revendo a obra de Sam Raimi décadas depois, não é certamente o melhor que o cineasta das sagas ‘Evil Dead’ e da primeira trilogia do Homem-Aranha já produziu mas continua a ser uma hora e meia agradável de entretenimento.

Série: ‘Os Imortais’ - Highlander: The Series (1992-1998)

“O meu nome é Duncan MacLeod, nascido há quatrocentos anos nas Terras Altas da Escócia. Eu sou imortal e não estou sozinho. Durante séculos esperamos pelo momento da Reunião, quando o golpe de uma espada e a queda de uma cabeça libertarão o poder do Avivamento. No final, só pode haver um.” Esta é a narração original dos primeiros episódios da série ‘Os Imortais’, uma produção franco-canadiana que funciona como uma sequela alternativa do filme ‘Duelo Imortal’, de 1986.

Duncan MacLeod (Adrian Paul) e Tessa Noel (Alexandra Vandernoot) moram há vários anos na cidade de Seacouver, no noroeste do Pacífico, onde administram uma loja de antiguidades. Uma noite, um jovem ladrão de rua chamado Richie Ryan (Stan Kirsch) invade a loja enquanto comemoram o aniversário de Tessa, mas é apanhado por MacLeod, que ameaça cortar a sua cabeça com uma espada. Atordoado pela aparente reacção exagerada de MacLeod, Richie observa outro homem saltar pela claraboia e desafiar o negociante de antiguidades, apenas para ficar desconcertado com o aparecimento de um terceiro homem com uma espada japonesa, que por sua vez está no seu encalce. O intruso é Slan Quince (Richard Moll), que está à caça de Duncan, sem saber que ele próprio é alvo do parente de Duncan, Connor MacLeod (Christopher Lambert).

Após o fracasso comercial e crítico das sequelas ‘Duelo Imortal II’ (1991) e ‘Duelo Imortal III’ (1994), a principal produtora francesa, Gaumont Television, comprou os direitos da franquia para que fosse produzida uma série em distribuição na América com uma equipa local, um movimento inovador na época. ‘Os Imortais’ marcou a primeira vez que uma produtora francesa se envolveu criativamente num programa destinado ao mercado americano. A série duraria seis temporadas, entre 1992 e 1998, e foi um êxito internacional, amealhando várias distinções. O filme seguinte da franquia, ‘Highlander - O Jogo Final’ (2000), serviu como sequela da série e dos filmes anteriores, reunindo os protagonistas Duncan e Connor MacLeod contra um adversário comum.

Tendo visto e gostado de ‘Duelo Imortal’ (1986), o filme que deu origem a toda a saga, recebi com agrado a notícia de que estaria para chegar uma série sobre o mesmo universo. Em Portugal, a série só estreou em Maio de 1996 na SIC, que a passou aos fins-de-semana. Lembro-me do “alerta” que era quando ‘Princes of the Universe’ começava a passar na televisão. A canção dos Queen, originalmente escrita para o primeiro filme, foi apropriadamente escolhida como tema de abertura dos episódios da série.

Álbum: ‘Significant Other’ – Limp Bizkit (1999)

Os Limp Bizkit são uma banda norte-americana de rock formada em Jacksonville, no ano de 1994. Fundada por Fred Durst (voz), Sam Rivers (baixo), John Otto (bateria) e DJ Lethal (programação e mesa de mistura), a banda recrutou o guitarrista Wes Borland no ano seguinte e começou a dar nas vistas no circuito alternativo da maior cidade do estado da Florida. Com um som caracterizado como uma mistura entre nu metal e rap rock, os Limp Bizkit despertaram a atenção dos contemporâneos KoЯn que os apresentaram ao produtor Ross Robinson e, assim, ajudaram a banda a assegurar o seu primeiro contrato discográfico com a Flip e a Interscope Records.

‘Three Dollar Bill, Y'all’, o álbum de estreia, saiu em 1997 e recebeu críticas maioritariamente positivas. A sonoridade do mesmo é mais pesada e agressiva do que nos álbuns que se lhe sucederiam e coloca em destaque o virtuosismo da guitarra de Borland, que também se destacava nos espectáculos ao vivo pela sua maquilhagem excêntrica. ‘Counterfeit’ e ‘Faith’ (uma versão ruidosa do original de George Michael) foram os singles extraídos do disco e tiveram uma rodagem considerável nas rádios norte-americanas. O segundo álbum, sempre um desafio para qualquer banda, chegou em 1999 e foi o momento de afirmação dos Limp Bizkit. ‘Significant Other’ apresentou o conjunto de Durst a uma audiência global e garantiu popularidade à banda no virar do século.

‘Nookie’, ‘Re-Arranged’, ‘Break Stuff’ e ‘N 2 Gether Now’ (este ultimo com a participação do rapper Method Man) representaram como singles o álbum que atingiu o lugar cimeiro da Billboard 200. Mais melódico e com menos influências do hardcore punk do álbum de estreia, ‘Significant Other’ consistiu em 15 faixas produzidas pelo prolífico engenheiro de som Terry Date. Para além de Method Man, o álbum contou ainda com participações de Jonathan Davis (KoЯn) e Scott Weiland (Stone Temple Pilots) na canção ‘Nobody Like You’ e Aaron Lewis (Staind) na música ‘No Sex’. Os Limp Bizkit não descansariam no ano seguinte, lançando ‘Take a Look Around’, single presente na banda sonora do filme ‘Missão Impossível 2’ e no terceiro disco de originais ‘Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water’, que viria a ser o último álbum da banda a atingir o primeiro lugar de vendas nos Estados Unidos.

O meu interesse pela música dos Limp Bizkit surgiu por altura do lançamento de ‘Significant Other’ e resultaria na compra desse CD, do anterior e do posterior. Significou um período muito específico de final de adolescência, uma época de algumas frustrações pessoais e talvez de uma rebeldia tardia. Já há mais de uma década que não ouvia qualquer dos discos e deixei de acompanhar a banda, que se tornou um pouco como uma caricatura de si própria apesar de actualmente integrar todos os elementos originais e até ter tocado este verão por cá no festival de Vilar de Mouros. Ainda gosto de algumas canções mas outras hoje parecem-me ridículas, especialmente a nível da letra, com Fred Durst a parecer um rufia de liceu que oferece porrada a toda a gente.

Videojogo: ‘Street Racer’ (1994)

‘Street Racer’ é um jogo de corridas de kart que combina elementos de títulos de carros com violência. Os personagens podem atacar os seus oponentes com os punhos e devem evitar explosivos e outros perigos espalhados pela pista, ao mesmo tempo que poderão aproveitar os impulsos de turbo presentes na mesma. O jogador pode escolher entre oito condutores (Hodja, Frank, Suzulu, Biff, Raph, Surf Sister, Helmut e Sumo San) e os seus respectivos carros, cada um com atributos distintos. Ao todo há oito pistas diferentes, representando cada uma das personagens.

Desenvolvido pela turco-britânica Vivid Image e distribuído pela francesa Ubisoft, o jogo começou por ser lançado para a Super Nintendo em 1994, seguindo-se a chegada à Mega Drive no ano seguinte e posteriormente também para a PlayStation original, Sega Saturn, Game Boy, Amiga e PC. Publicitado como “um cruzamento entre ‘Super Mario Kart’ e ‘Street Fighter’”, o jogo recebeu críticas muito positivas pelas versões SNES e Mega Drive e apreciações mistas relativamente às outras plataformas.

O jogo oferece a possibilidade de disputar vários campeonatos, começando com o Campeonato Bronze e passando para competições cada vez mais difíceis. Um modo individual alternativo também está disponível. O jogador recebe pontos relativamente às suas posições finais nas corridas, com pontos de bónus concedidos para a volta mais rápida, maior número de estrelas obtidas e maior número de socos desferidos. O competidor com mais pontos após todas as corridas vence o campeonato. ‘Street Racer’ inclui ainda um modo Rumble, no qual os jogadores tentam forçar os oponentes a sair de uma arena, e uma modalidade Soccer, que consiste num campo de futebol com uma baliza em que os jogadores atacam a bola tentando marcar o maior número de golos.

‘Street Racer’ foi o único jogo de carros que tive para a Mega Drive. Foi também o último jogo que tive para a consola e, por essa razão, terá sido o que menos joguei. Como não tinha o adaptador para quatro jogadores, não cheguei a disfrutar dessa particularidade do jogo mas ainda fiz muitas corridas e campeonatos com o meu primo e amigos. É um jogo divertido e influenciado pelo primeiro ‘Super Mario Kart’ (de 1992, o qual nunca tinha jogado) mas que, pelas inovações que trouxe a nível de jogabilidade, acabou, por sua vez, a influenciar os títulos seguintes da referida franquia da Nintendo.